Prunus serrula

Numa das primeiras visitas que fiz enquanto guia a jardins históricos em Inglaterra, muitos foram os espaços que me fascinaram. Neles encontrei harmonia, exuberância, excentricidade, alguma loucura e, sobretudo, uma imensidão de espécies de todos os estratos de vegetação. Já vi milhares de árvores, arbustos e herbáceas para todos os gostos e feitios mas até hoje, nenhuma me surpreendeu tanto como esta:

É um fabuloso Prunus serrula que para os nossos lados não é frequente. Ficou a vontade de TER um, vontade essa satisfeita agora, passados já alguns anos, com a generosa oferta de uma querida companheira de viagem que jamais esqueceu o meu espanto perante tanta...exuberância?!!! É uma loucura, não é?!!!

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Agricultura urbana


A associação quase instantânea que fazemos entre agricultura e meio rural pode levar a uma impressão de incompatibilidade entre agricultura e meio urbano. Entretanto, a agricultura urbana não é uma actividade recente e, de alguma forma, sempre se expressou nas áreas urbanas, mesmo que timidamente. A cidade do Porto é um bom exemplo disso, com um tecido urbano repleto de pequenas hortas e recantos cultivados, muitas vezes onde menos se espera.
A agricultura urbana consiste na produção de alimentos dentro de perímetro urbano e periurbano, aplicando métodos extensivos, tendo em conta a inter-relação homem/cultivo/meio ambiente e as facilidades proporcionadas pela infra-estrutura urbanística, que propiciam a estabilidade da força de trabalho e a produção diversificada durante todo o ano, baseadas em práticas sustentáveis que permitem reciclar resíduos orgânicos.
Tem o compromisso de manter e/ou recuperar a biodiversidade dos agro-ecossistemas e da envolvente, ao mesmo tempo que possibilita o aumento do rendimento familiar, ao agregar valor aos produtos e ampliar o mercado, facilitando a comercialização.
Apesar de não ser ainda acessível a uma boa fatia da população, esta actividade tem despertado um crescente interesse, como vem provando o enorme sucesso do projecto horta à porta, da Lipor ( http://www.hortadaformiga.com/conteudos.cfm?ss=7)
A agricultura biológica idealizada para as áreas urbanas poderá sustentar-se no uso responsável do equilíbrio dos ecossistemas locais, possibilitando obter bons níveis de produtividade, evitando ao mesmo tempo o risco de contaminação química para o agricultor urbano e os consumidores, bem como do meio ambiente circundante.
Por outro lado pode incorporar os últimos avanços científicos, promovendo a participação criativa dos agricultores, respeitando os conhecimentos, culturas e experiências locais.
A sustentabilidade da agricultura urbana deve estar apoiada no conhecimento da agro-ecologia local, bem como na utilização de todo o espaço disponível, para maior produção durante todo o ano. Será importante assegurar a integração interdisciplinar e interinstitucional para garantir apoio técnico à produção.
Com cerca de 3 hectares de cultivo de plantas aromáticas, medicinais e condimentares, certificados em modo produção biológico, o nosso espaço é um dos poucos em toda a Europa a fazê-lo em ambiente urbano. Totalmente visitável e com uma forte vertente pedagógica, procurámos mostrar a todos que é possível, que está ao alcance, assim haja vontade.

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Plantas aromáticas em consociações de culturas em agricultura e jardinagem biológica

Consociações de plantas
  • Algumas plantas crescem bem na companhia de outras plantas, complementando-se;

  • Certas plantas produzem substâncias alelopáticas nas raízes, folhas ou caules, que inibem o desenvolvimento de outras;
  • Outras plantas funcionam como isco, pois atraem com sucesso as pragas, podendo depois ser destruídas.


Algumas plantas podem servir de:

  • Alimento: pólen, néctar, sucos (umbelíferas = néctar (ex: funcho) e compostas = pólen (ex: calêndulas);

  • Refúgio: locais de hibernação ou estádio de pupa de insectos auxiliares;

Muitas plantas contêm substâncias que repelem insectos, tais como:

  • Óleos essenciais (Alfazema);

  • Piretrinas (Piretro);
  • Citrol (Erva-príncipe).

O rácio ideal entre as diversas plantas produtivas e as plantas de vegetação circundante que oferecem protecção não é suficientemente conhecido; É desejável estabelecer uma consociação com uma diversidade de espécies considerável.

Importância da vegetação:

  • Controlo da erosão;
  • Fixação de populações de insectos auxiliares;
  • Retenção da água e conservação do solo;
  • Fixação de predadores (aves, reptéis, mamíferos; peixes);

  • Função ornamental;

Boa gestão da vegetação circundante = meio de luta cultural = luta biológica = limitação natural das pragas e doenças.

Plantas utilizadas
Abrunheiro-bravo (Prunus spinosa)
Refúgio para sirfídeos, himenópteros e crisopas (insectos predadores)

Absinto (Artemisia absinthium)
Repele diversas pragas; Insecticida; Pode ser utilizado em várias culturas

Alecrim (Rosmarinus officinalis)
Repele diversas pragas; atrai insectos polinizadores; a sua presença resulta estimulante para outras plantas

Alfazema (Lavandula angustifolia)
Repele diversas pragas; atrai insectos polinizadores; a sua presença resulta estimulante para outras plantas

Alfazema-dentada (Lavandula dentata)
Repele diversas pragas; atrai insectos polinizadores; a sua presença resulta estimulante para outras plantas

Alfazema-flor-branca (Lavandula viridis)
Repele diversas pragas; atrai insectos polinizadores; a sua presença resulta estimulante para outras plantas

Alfazema-folha-recortada (Lavandula multifida)
Repele diversas pragas; atrai insectos polinizadores; a sua presença resulta estimulante para outras plantas

Alho (Allium sativum)
Efeito antibiótico e fungicida; contém aminoácido de efeito pesticida; destrói pragas quando aplicado em preparação; pode destruir também os auxiliares

Aneto (Anethum graveolens)
Refúgio para sirfídeos predadores e caracóis

Arruda (Ruta graveolens)
Repele gatos e formigas

Borragem (Borago officinalis)
Melhora a produção e a qualidade, por melhorar a disponibilidade de cálcio e potássio; proporciona sombra. Proporciona bons resultados na cultura do morangueiro

Calêndula (Calendula officinalis)
Produz grandes quantidades de pólen; atrai uma grande quantidade de insectos úteis. Repele grande número de pragas. Cavalinha (Equisetum arvense)
Rica em sílica, quando aplicada em preparação ao solo ou nas plantas, funciona como fungicida

Cebolinho (Allium schoenoprasum)
Inibe a mancha negra e a sarna
Proporciona bons resultados na cultura de tomateiro; roseiras; macieiras; alface; cenoura; aipo

Chagas (Tropaelum majus)
Planta-isco para afídeos

Consolda (Symphytum officinale)
Rica em cálcio, potássio e fósforo; O chorume fermentado acelera a compostagem; excelente adubo verde; relação C/N semelhante ao estrume

Cravo-túnico (Tagetes sp.)
Repele nemátodos e mosca-branca. Proporciona bons resultados na cultura de tomateiro; alho; roseiras

Erva-cidreira (Melissa officinalis)
Atrai insectos polinizadores; o seu forte cheiro a limão repele determinados insectos

Erva-príncipe (Cymbopogon citratus)
O seu forte cheiro a limão repele determinados insectos

Funcho (Foeniculum vulgare)
Refúgio para sirfídeos predadores e caracóis

Heras (Hedera sp.)
Refúgio para sirfídeos, himenópteros e crisopas

Hissopo (Hyssopus officinalis)
Repele a borboleta branca da couve

Hortelã-pimenta (Mentha x piperita)
Repele lagarta da couve e outras pragas

Hortelã-vulgar (Mentha spicata)
Repele lagarta da couve e outras pragas

Labaças (Rumex sp.)
O preparado tem acção fungicida

Limonete (Aloysia triphylla)
O seu forte cheiro a limão repele determinados insectos

Loureiro (Laurus nobilis)
Refúgio para antocorídeos; repelente de toupeiras

Macela-camomila (Chamaemelum nobile)
Conhecida pelos seus efeitos benéficos nas plantas; repele uma série de insectos
Proporciona bons resultados na cultura de tomateiro; roseiras; macieiras; brassicas

Manjericão (Ocimum basilicum)
Afasta insectos

Milefólio (Achillea milefolium)
O chorume fermentado acelera a compostagem

Pelargónio-limão (Pelargonium crispum 'Variegatum‘)
O seu forte cheiro a limão repele determinados insectos

Piretro (Tanacetum cinerariifolium)
Repele uma série de pragas; as flores em pó funcionam como insecticida
Poêjo (Mentha pulegium)
Afasta ratos e formigas

Rosmaninho (Lavandula pedunculata)
Repele diversas pragas; atrai insectos polinizadores; a sua presença resulta estimulante para outras plantas

Saganho-mouro (Cistus salvifolius)
Refúgio para himenópteros

Salsa (Petroselinum crispum)
Repele mosca da cenoura e certos escaravelhos. Proporciona bons resultados na cultura de tomateiro; roseiras; cenouras; espargos

Salva (Salvia officinalis)
Repele uma série de pragas; afasta a borboleta-branca da couve

Santolina (Santolina chamaecyparissus)
Excelente como repelente de grande número de insectos

Segurelha (Satureja montana)
Repele uma série de pragas; atrai insectos polinizadores

Tanaceto (Tanacetum vulgare)
Repele uma série de pragas, como piolhos, lagartas, formigas e ácaros

Tomilhos (Thymus sp.)
Repele a lagarta da couve

Trovisco (Daphne gnidium)
Refúgio para afídeos úteis; repelente de toupeiras

Urtigas (Urtica sp.)
Acelera a compostagem; o chorume ou a maceração são usados como insecticida contra piolhos e ácaros
Zimbro (Juniperus communis)
Oferece protecção para pequenas aves insectívoras e aranhas predadoras

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Plantas autóctones

Perdemos já 1/8 de todas as plantas com as quais partilhámos o planeta: um pensamento que perturba qualquer pessoa. Existem sete vezes mais plantas ameaçadas do que animais nas mesmas condições, ainda assim muito mais dinheiro é gasto em programas de conservação de animais. Nos Estados Unidos, 97% do investimento federal em planos de conservação é gasto em programas de conservação animal e só 3% é gasto com programas de conservação de plantas.
O comércio de plantas ameaçadas continua em muitas partes do mundo, No nosso país é ainda prática corrente a colecta de populações espontâneas destas plantas, o que tem vindo a contribuir para a degradação de ecossistemas e o gradual desaparecimento de algumas espécies. Nos países desenvolvidos as normas de qualidade e os custos de mão-de-obra tem contribuído para o fim da colecta local de PAM, dando lugar à sua importação de países em vias de desenvolvimento.
Entre a comunidade botânica e científica, hortícola e comercial, e o público em geral, possuímos os conhecimentos, o entusiasmo e a habilidade para cultivar e conservar estas plantas. Mas, mais importante, precisamos de ter a vontade.
Horticultores, viveiristas, paisagistas, técnicos de espaços verdes, e todas as pessoas em geral, devem ter consciência que a preservação das plantas deve ter um significado especial. A procura de plantas para jardim foi, e ainda é, uma ameaça para as plantas selvagens, e este é um problema que a comunidade hortícola pode ajudar a resolver. Os conhecimentos de quem faz propagação de plantas e as suas colecções podem contribuir para os esforços de preservação de plantas ameaçadas, mas para que os seus esforços tenham algum valor a longo prazo, são necessários conhecimentos sobre métodos de conservação.
No Cantinho das Aromáticas produzem-se espécies autóctones, algumas delas já raras no estado selvagem. Procura-se transmitir este conhecimento às pessoas que as levam para casa, de forma a poderem valorizar recursos genéticos que são também património cultural da humanidade, podendo assim contribuir para a sua preservação. Entre estas plantas encontram-se:

  • Alfazema-de-flor-branca (Lavandula viridis); é um endemismo ibérico, ocorre na serra de monchique e é incrivelmente perfumada e bonita.


  • Alfazema-de-folha-recortada (Lavandula multifida); outro endemismo ibérico, vive em areia, na Serra da Arrábida e é a mais pequena das Lavandulas de Portugal. Tem um forte aroma característico, absolutamente distinto das outras alfazemas, que faz lembrar orégãos. Está em flor todo o ano. Lindíssima pelo fino recortado das suas folhas e pela estrutura delicada das flores.


  • Aquilégia (Aquilegia vulgaris); Ocorre cada vez menos, muito por culpa da excessiva utilização de herbicidas, esta delicada herbácea possui uma das flores com arquitectura mais complexa da flora de Portugal.


  • Arméria (Armeria marítima); Vive nas dunas, frente ao mar. No nosso jardim ou floreira tem um comportamento espantoso já que precisa de muito pouco para viver e oferece em troca um grande número de flores cor lilaz.


  • Arméria-de-flor-branca (Armeria pseudoarmeria); com folhas mais largas, forma também tufos dos quais brotam inúmeras flores brancas.


  • Betónica (Stachys officinalis); Esta pequena herbácea está muito esquecida. É uma excelente opção até para zonas mais húmidas e sombrias do jardim. Produz inúmeras flores muito bonitas.


  • Cardo-marítimo (Eryngium maritimum); no nosso país os cardos são normalmente desprezados, o que não acontece onde as pessoas gostam mais de plantas do que nós. Os cardos são óptimos para jardins, pela sua floração de cor intensa e até pela sua faceta anti-vandalismo!!!


  • Erva-peixeira (Mentha cervina) planta rara que ocorre em zonas húmidas do nosso país. Ainda é utilizada para preparar alguns pratos fantásticos, como os famosos peixinhos do rio, servidos na foz do rio Sabor;

  • Fidalguinhos (Centaurea cyanus); rara também pela excessiva utilização de herbicidas entre outros factores, é uma belíssima flor silvestre.

  • Hortelã-de-cabra (Cedronella canariensis); exclusiva das ilhas Canárias e da Madeira, é um arbusto semelhante ao limonete, cujas folhas exalam um forte e agradável aroma perfumado. Possui floração abundante e pertence à minha família de plantas favorita, as labiadas. É rara.


  • Marióilas (Phlomis fruticosa); possui folhagem cinzenta esbranquiçada e produz inúmeras flores amarelas durante todo o Verão. Vive com muito pouca água e é um arbusto magnífico para qualquer jardim. Pouco frequente no nosso país.


  • Nêveda-dos-gatos (Nepeta cataria); Além de ser uma das plantas favoritas dos gatos, esta linda planta herbácea possui cachos de flores brancas extremamente atractivas para insectos melíferos. Muito rara em Portugal.

  • Rosmaninho-maior (Lavandula pedunculata); Comum em Portugal, apresenta no entanto um pedúnculo mais comprido do que aqueles que são normalmente vendidos nos centros de jardinagem, além de ser também mais resistente a condições adversas.


  • Saganho-mouro (Cistus salvifolius); Muito comum no país e geralmente menosprezada. Quando bem cuidada, no jardim, resulta absolutamente espectacular, pela abundância de flores que produz.


  • Santolina (Santolina rosmarinifolia); uma excelente alternativa a outra espécie muito utilizada em jardins, a Santolina chamaecyparissus, pelo seu maior porte, cor verde intensa e floração abundante.


  • Teixo (Taxus baccata); Em vias de extinção no nosso país, esta conífera de crescimento lento apenas ocorre no Gerês e também na Serra da Estrela. Alguns exemplares são muito velhos. Não consigo compreender como não é mais cultivado no nosso país, quando por exemplo em Inglaterra é tão utilizado até para constituir sebes.


  • Tomilho bela-luz (Thymus mastichina); Um endemismo ibérico, o mais fantástico de todos os tomilhos, também conhecido como sal puro por ser utilizado tradicionalmente para este substituir na alimentação.


  • Tomilho-canforado (Thymus camphoratus); Vive nas dunas, é raro, de cheiro e sabor intenso. Óptimo para cultivar em jardins de baixa manutenção.


  • Tomilho-das areias (Thymus carnosus); Vive nas dunas, é raro, de cheiro e sabor intenso. Óptimo para cultivar em jardins de baixa manutenção.


  • Tomilho-serpão (Thymus serpyllum); Este tomilho, ao contrário dos anteriores, cresce de forma prostrada, criando um tapete, que pode ser uma excelente opção para zonas secas ou pedregosas, apiários, taludes, etc. Quando em flor quase deixámos de ver o verde das folhas e caules, tal é a sua abundância.

A lista com todas as espécies autóctones que produzimos está disponível aqui: http://spreadsheets.google.com/pub?key=p554TJXokm9_8DjE4wBZ-YQ

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